sexta-feira, 8 de junho de 2012

Balada do amor através dos tempos por Drummond

Eu te gosto, você me gosta desde tempos imemoriais. 


Eu era grego, você troiana, troiana mas não Helena. 

Saí do cavalo de pau para matar seu irmão. 


Virei soldado romano, perseguidor de cristãos. 

Na porta da catacumba encontrei-te novamente. 
Mas quando vi você nua caída na areia do circo e o leão que vinha vindo, 
dei um pulo desesperado e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro, flagelo da Tripolitânia. 

Toquei fogo na fragata onde você se escondia da fúria de meu bergantim. 
Mas quando ia te pegar e te fazer minha escrava, você fez o sinal-da-cruz 
e rasgou o pito a punhal.. Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos) fui cortesão de Versailles, espirituoso e devasso. 

Você cismou de ser freira.. Pulei o muro do convento mas complicações políticas nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno, remo, pulo, danço, boxo, tenho dinheiro no banco. 

Você é uma loura notável boxa, dança, pula, rema. 
Seu pai é que não faz gosto. Mas depois de mil peripécias, 
eu, herói da Paramount, te abraço, beijo e casamos.

Matei, brigamos, morremos. 

2012 - Ano de Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) - Considerado um dos maiores poetas brasileiros, autor de uma vasta obra poética, que também inclui contos e crônicas. Morou no Rio de Janeiro a maior parte de sua vida, onde, foi funcionário público. Foi traduzidos para vários idiomas e é uma referência fundamental na poesia brasileira. Nessa semana, poemas de seu primeiro livro Alguma Poesia, que faz 80 anos de sua primeira publicação.

Nenhum comentário: